O que é o Programa

O Programa de Incentivo à Leitura vem sendo implementado gradativamente desde 2009 e tem como maior objetivo a formação de uma cidade leitora, a partir da garantia do acesso ao livro e a leitura, da formação de mediadores de leitura e da realização e apoio à todas iniciativas de ações voltadas para o incentivo à leitura em Betim.Sendo assim o grande desafio é criar condições para não limitar esse Programa aações pontuais e esporádicas, mas promover uma grande mobilização municipal a esse favor, fazendo com que as bibliotecas escolares, praças, parques e outros espaços da cidade se tornem espaços que acolham as práticas leitoras. O nosso objetivo é construir a cada dia UMA BETIM MAIS LEITORA!
Equipe: Eugênia Ribeiro, Gil Bertho Lopes, Viviane Penido e Fabiana Vilas Boas (coordenação)

Contato: Tel: 3596-0081
O Programa de Incentivo à Leitura foi construído com base nas diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) que pode ser melhor conhecido por meio do acesso aos links:
www.pnll.gov.br e do http://maisleituramaislivro.ciatech.com.br/

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Felicidade clandestina -

Felicidade clandestina - Clarice Lispector




Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.



Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".



Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.



Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.



Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.



Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.



No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.



Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.



E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.



Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.



Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!



E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.



Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.



Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.



Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.



Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.

Acho de uma beleza singular esse conto e resolvi postá-lo para compartilhar desta delícia

O círculo virtuoso da sociedade leitora

Alguns setores da economia brasileira cresceram muito nos últimos anos. Para nós, educadores, o que mais chama a atenção é o segmento relacionado ao mercado editorial, principalmente no que diz respeito aos livros didáticos e de literatura. O Ministério da Educação (MEC) muito colaborou para esse cenário, comprando vultosas tiragens para distribuir às escolas - tanto de um tipo como de outro - e exigindo cada vez mais qualidade em todos os aspectos.


"Sabemos que a paixão pela leitura não vem no código genético das pessoas. Ela deve ser cultivada, incentivada e ensinada."



O número de livros lidos por ano por habitante aumenta nos países em que a leitura aparece em diversos contextos, formando um círculo virtuoso. Se as pessoas leem em casa ou no transporte público, compram livros para si e para presentear, fazem deles objeto de conversas, participam de encontros em que a literatura é o principal tema, então essa é uma nação de leitores.



O fato é que o nosso país está ficando cada vez mais e mais letrado. Editoras têm aumentado o número de lançamentos nos diversos gêneros. Nas grandes cidades, bancas de jornais vendem literatura a um preço acessível e livrarias estão se transformando em pontos de encontro da vida social e intelectual. É bonito ver, nesses estabelecimentos, os espaços tomados de leitores que aproveitam o tempo folheando os lançamentos, lendo os primeiros capítulos do livro recém-adquirido enquanto tomam um café e participando de eventos artísticos e culturais. Pais e filhos passam horas lendo histórias em almofadas gigantes em ambientes detalhadamente decorados para atrair e agradar às crianças.



No interior do Brasil, certamente isso ainda não é realidade. Contudo, vemos vários esforços do poder público para montar bibliotecas onde elas ainda não existem e ações de organizações não governamentais promovendo ações com o objetivo de facilitar o acesso às publicações nos lugares mais carentes.



Mas, afinal, como uma nação de leitores começa a se formar? Alguns dizem que é na família, com os pais lendo para as crianças, cultivando em casa uma pequena biblioteca com livros, revistas e jornais, comentando sobre as leituras que fizeram na hora das refeições e até encapando com os filhos os livros da escola para que durem mais. Tudo isso ajuda, sim, os pequenos a terem um testemunho próximo sobre a importância da leitura. Mas não basta.



Sabemos que a paixão pela leitura não vem no código genético das pessoas. Ela deve ser cultivada, incentivada e ensinada. Com isso, concluímos que a escola tem um papel crucial na formação de leitores. É lá que devem acontecer atividades significativas para que a comunidade leitora cresça cada vez mais, como destaca a reportagem de capa da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR de agosto/setembro, que está nas bancas. Dar amplo acesso aos livros - sem escondê-los em caixas ou trancafiá-los na biblioteca com medo que estraguem -, organizar o acervo de modo que os alunos possam escolher o que lhes agrada, envolver professores, funcionários e pais em atividades em que romances, contos e poemas aparecem como a atração principal são algumas ações que podem ser empreendidas pelos diretores escolares.



Uma escola envolta em um clima leitor é o elemento que mais facilita o trabalho do professor, que, no fim das contas, é o responsável por fazer crescer, nas diferentes fases escolares, o gosto pela leitura literária, como tratou a reportagem de capa de NOVA ESCOLA de agosto, disponível no site www.ne.org.br. A escola pode, com isso, se tornar o exemplo nas comunidades que ainda estão engatinhando nessa área ou dar sequência, nas que já incorporaram a leitura a seus hábitos cotidianos, ao círculo virtuoso que fará da nossa sociedade uma sociedade leitora.



Fernando José de Almeida (gestao@abril.com.br) é filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e diretor de Educação da Fundação Padre Anchieta.

Confira as dicas bacanas para incentivar a leitura em casa

OBA!! Mais livros nas escolas

Em 2011, mais de trinta milhões de estudantes serão beneficiados pelo programa Biblioteca da Escola (Governo Federal). No primeiro semestre de 2011, dez milhões de livros de literatura serão enviados para escolas públicas de ensino fundamental (49.799 unidades de ensino do 6º ao 9º ano) e de ensino médio (17.830 escolas). Os acervos terão títulos de diversos gêneros literários, como contos, crônicas, romances, poemas e histórias em quadrinhos.


Ao todo, incluindo as obras do PNBE Especial, Professores e Periódicos, o investimento foi de R$ 218,5 milhões.

No site do MEC você tem acesso às obras:
 
MEC/FNDE

Livros transformam comunidade quilombola

Como os livros mudaram a vida de uma cidade ribeirinha do interior do Pará


Foto: Alice Vasconcellos

Casa de leitura: a sala de uma moradora abriga os livros usados por toda a comunidadeNa Comunidade Quilombola Jacarequara, em Acará, a 25 quilômetros de Belém, a energia elétrica só foi instalada em outubro de 2006, transformando a vida das 42 famílias que moram lá. Dez meses depois, uma nova revolução marcou a história do vilarejo: a chegada de 280 livros enviados pelo Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O acervo inclui literatura infantil, juvenil e clássica, além de obras técnicas e didáticas. Antes disso, encontrar um material de leitura era coisa rara, assim como ler histórias. Hoje isso mudou.

Leia mais no site: http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/livros-transformam-cidade-612128.shtml